Pai de uma amiga morreu de covid, mais um óbito que não precisava existir no Brasil

Raphaela Suzin
2 min readJun 17, 2021

17 de junho de 2021. O pai de uma das minhas melhores amigas morreu de covid. Ele tinha 49 anos e deixa quatro filhos e a esposa. Morreu de uma doença que tem vacina. Como o mundo inteiro sabe, a contaminação no Brasil está elevadíssima, enquanto o ritmo de vacinação está muito lento.

Seu Fernando morreu de coronavírus 10 meses depois de a Pfizer fazer a primeira oferta de vacinas ao governo federal. Entre 14 e 26 de agosto de 2020, foram três possibilidades de contratos ignoradas. Sem falar das outras ofertas e dos 80 e-mails que ficaram na caixa de entrada sem resposta. A empresa também procurou a embaixada brasileira nos Estados Unidos. Tudo isso falando apenas da Pfizer, a vacina que nos transformaria em “jacaré”, segundo o presidente Jair Bolsonaro, em mais um ataque aos imunizantes.

Nesse meio tempo teve também críticas à CoronaVac, a vacina chinesa que precisou virar, após aprovação da Anvisa, “a vacina do Brasil” — o governo federal, mesmo atacando os imunizantes, não poderia deixar o protagonismo do início da vacinação no Brasil ao governo de São Paulo. Lembrando que Bolsonaro ordenou ao seu então ministro da saúde Eduardo Pazuello suspender a intenção de compra da CoronaVac. Vacina que protege hoje a maioria dos nossos avós.

Falando em CoronaVac, as inúmeras ofensas de Bolsonaro e seus aliados à China estremeceram a relação diplomática com o país asiático. A biofarmacêutica chinesa Sinovac, desenvolvedora da CoronaVac, priorizou o envio do IFA a aliados. Mais uma vez, faltaram doses no Brasil.

As mortes de brasileiros têm um responsável: só ontem foram 2.997 óbitos registrados e logo chegaremos, infelizmente, a triste marca dos 500 mil, onde seu Fernando estará incluído. Um estudo do professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) Pedro Hallal, publicado na revista científica Lancet, mostra que três de cada quatro mortes teriam sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial de controle da pandemia. Na CPI da Covid, no Senado, a microbiologista Natalia Pasternak explicou: “Quando atingirmos 500 mil mortes, isso quer dizer que 375 mil mortes poderiam ter sido evitadas com melhor controle da pandemia”.

Minha amiga e a família dela não precisariam estar chorando hoje. Milhares de famílias poderiam estar com seus amores. Essas mortes vêm com uma assinatura, nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.

Não, meus amigos, não é questão política — de esquerda, centro, direita. É questão de vida. Se um presidente ignora a vacina, único método de nos proteger do coronavírus e deixarmos de vez essa pandemia para trás, ele tem responsabilidade. Afinal, ele é o presidente do Brasil.

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